terça-feira, 20 de março de 2012

Programação


Queridos,
 a programação do nosso evento está muito legal!!!
Deêm um olhada :

Programação:

Dia 04.05
Conferência: Breve Manual para entender as crianças de hoje em dia.
Horário: 19hs

Dia 05.05:
Seminário - Fundamentos de uma psicopatologia psicanalítica (Por que o sujeito é uma impossibilidade estatítica): 9hs às 12hs
Seminário - Cinco casos clínicos para demonstrar como a clínica do Sujeito não entra em classificações: 14hs às 17hs



Serão 8 horas de Alfredo Jerusalinsky!!! Para saber como se  inscrever acessem o link INSCRIÇÃO , em baixo do título do blog.

Dúvidas? Enviem perguntas para barbara.bsantos@hotmail.com .

beijos e até mais!!!!!!!!!!!!

Comentário de Jerusalinsky

Gente,
Alfredo falou  sobre Psicanálise a um site (http://www2.uol.com.br/percurso/main/pcs33/33Debate.htm)  muito interessante - aliás, recomendo o site!! - e eu postei para vocês se enriquecerem mais um pouco.
                                                

                                             Que tipo de ciência é a psicanálise? 

Alfredo Jerusalinsky:A descoberta freudiana do inconsciente colocou em xeque a ilusão da modernidade de poder transformar todo saber em conhecimento. Embora nascida no berço da ciência, a psicanálise acabou demonstrando a impossibilidade de formular qualquer enunciado capaz de capturar um real sem que nada reste fora da redoma da linguagem. Para tal demonstração a psicanálise não se apóia na evidência da vastidão sem abrangência possível do real – o que a colocaria fora da ciência, exposta às especulações místicas – mas na condição própria do sujeito que produz esse enunciado. Um sujeito tal cujo enunciado é a matéria mesma que o constitui, na medida em que sua própria existência depende desse enunciado. Por isso seu funcionamento não pode ser outra coisa que a lógica do discurso que ao mesmo tempo habita e do qual está, ele próprio, feito. Uma lógica necessariamente paradoxal, já que é o sujeito mesmo quem produz a verdade que acredita descobrir.
 
Essa descoberta tem duas grandes conseqüências no campo do saber. A primeira é o reconhecimento de que o corpo real dos humanos é regido por uma ordem simbólica que desdobra sobre ele efeitos imaginários; uma ordem que prevalece sobre os automatismos neurovegetativos. Isso muda a leitura de seus sofrimentos e estabelece os princípios de uma nova clínica. A segunda é que, embora não constitua uma nova epistemologia (faltaria para isso ter a fé no método que a ciência contemporânea tem), produz uma nova episteme, ou seja, um novo ponto de partida para a abertura de caminhos do saber. Mais de cem anos de prática psicanalítica produziram o desdobramento dessas novas trilhas nos campos da antropologia, da filosofia, das ciências jurídicas, da medicina, da psicologia, da literatura, entre outros. Mas não só. Produziram também um certo saldo de conhecimentos emergidos de sua prática de leitura dos enunciados, desde o vértice da enunciação.
 
Essa perspectiva exige do operador situar o referente que permita o deciframento. Isso introduz a condição de uma decisão e uma escolha que, embora seja um momento comum a todas as ciências, na psicanálise não tem a contrapartida, que tem em todas elas, da configuração dos enunciados como universais.
 
O ordenamento acadêmico se rege por esses universais que permitem supor os enunciados que se transmitem como certezas. É partindo do mesmo suposto que a regulamentação de profissões fabrica a idéia de uma garantia de saber (como se tal coisa pudesse se constituir simplesmente por obra de uma letra jurídica). As dificuldades da conjugação da prática analítica com a prática universitária, tanto como sua resistência a ser arregimentada por qualquer aparelho estatal, residem em tal contraposição de princípios e postulados. Mas sua vocação pelas rebarbas dos enunciados teve e tem conseqüências também para formulação de sua própria teoria. De fato a formação – sendo ela sempre a do inconsciente – conduz o analista a tomar sempre o que excede o enunciado do outro, com o qual ele não faz mais do que cumprir com seu papel de analista. Aquilo que em qualquer outra prática teórica constituiria uma posição gratuitamente implicante, aproveitando uma série de banalidades para questionar o trabalho do colega, no caso da psicanálise constitui a trilha mais apropriada, a via regia da elaboração teórica. A multiplicidade de enfoques, em lugar de desmentir, contribuir para confirmar o fundamento de sua prática.
 
O risco do ecletismo se faz imediatamente presente diante de uma atividade científica assim delineada, facilmente o conjunto das proposições derivadas de tal forma de trabalhar nas bordas do saber humano pode tomar a aparência de uma torre de Babel. Faz-se então necessário estabelecer a condição da prova porque toda proposição deve passar. O rigor, neste caso, consiste em exigir a prova da interpretação. Isso quer disser que qualquer formulação neste âmbito corre o risco (ou talvez devamos dizer “a sorte”) de ser, ela mesma, interpretada. Essa exigência, por sinal, não coloca as coisas no caminho de uma coexistência das diferentes versões, já que toda interpretação – para sê-lo – coloca o sujeito face ao limite de seu saber. Evidentemente, uma posição que ninguém gosta de ocupar, e menos ainda quando se trata de formulações teóricas. Mas, na medida em que a psicanálise pretende se manter dentro do terreno da ciência (dada a condição interpretativa imposta pela sua própria descoberta) terá de sacrificar a paz para se aproximar da verdade. De outro modo a psicanálise não seria outra coisa que a prática de uma opinião.
 
Na direção oposta, mal faria a psicanálise se, com o pretexto da exigência de um rigor, pretendesse universalizar suas próprias proposições. Acabaria apagando com o cotovelo o que tanto a mão resistiu em – finalmente – escrever.

beijos,
até mais!!!!!!!